Os pesquisadores da Fundação Osvaldo Cruz iniciaram uma pesquisa em Niterói (RJ) para identificar a presença de material genético do Coronavírus em 12 pontos da rede de esgoto do município. A mobilização da Fiocruz começou em abril e tem o objetivo de acompanhar a evolução da disseminação do vírus durante a pandemia, já que as evidências científicas comprovam que o Coronavírus é excretado pelas fezes. Assim, a equipe consegue mapear os pontos da cidade com a presença de casos e mapear a circulação do vírus nas áreas analisadas.
Para a professora e coordenadora do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária Bianca Goulart de Oliveira Maia, é preciso que existam comprovações científicas da forma de contágio do Coronavírus pelo esgoto, mas isso alerta para um outro problema: o saneamento básico nas principais cidades brasileiras. “No Brasil temos 4 milhões de pessoas sem banheiro, que defecam a céu aberto. Temos por ano cerca de 300 mil pessoas internadas por doenças relacionadas a falta de saneamento, como diarreia. Essa sempre foi a luta dos sanitaristas, fazer estação de tratamento de esgoto ou água não é luxo, é saúde”, destaca.
Apesar da confirmação de que o vírus fique nas fezes, não há confirmação científica de que ele possa contaminar outras pessoas, diferente do que acontece com outras doenças de transmissão hídrica causada por vírus, bactérias e protozoários. “Os estudos ainda são recentes e ainda não se sabe o mecanismo de transmissão no esgoto e se o vírus está ativo e se vai causar a doença nas pessoas”, lembra Bianca.
“Nossas análises detectam a presença de fragmentos de material genético do vírus, indicando que existe presença de casos positivos em determinada localidade. Porém, ainda não há evidências na literatura científica de que, quando excretado nas fezes, o vírus ainda esteja viável para infectar outras pessoas”, enfatizou Marize Pereira Miagostovich, chefe do Laboratório de Virologia Comparada e Ambiental do IOC/Fiocruz e responsável pela pesquisa, em entrevista.
O saneamento básico nas cidades brasileiras
Hoje, segundo dados do Sistema Nacional de Informações sobre o Saneamento (SNIS), o tratamento de todo esgoto gerado no Brasil é de 46,3%. Em algumas regiões do país o dado é mais alarmante, como a região Norte, que tem 10,5% de atendimento total de esgoto. Em Niterói, a cidade sede da pesquisa da Fiocruz, tem mais de 513 mil habitantes (IBGE 2019) e 94% de rede coletora de esgoto, sendo 100% do esgoto tratado, conforme os dados do Instituo Trata Brasil.
Em Joinville, a rede coletora de esgoto, segundo o Trata Brasil, é de 32,75%. Na maior cidade de Santa Catarina, com mais de 590 mil habitantes (IBGE 2019), só 25,06% do esgoto é tratado. “Com certeza se tivéssemos 100% de rede coletora e do nosso esgoto tratado, teríamos uma diminuição drástica em várias doenças e quem sabe até no Covid-19”, pontua a professora Bianca.
Foto: Josué Damacena